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http://showdebola.pt/ayrton-senna-completam-se-19-anos-do-seu-desaparecimento-e-que-um-mito-nasceu/
Texto: André Peragine
O domingo de 1º de maio de 1994 não prometia uma corrida de Fórmula 1 como tantos outros. O clima pesado
mostrava que a categoria ainda estava sob o impacto dos acidentes de Rubens
Barrichello e Roland Ratzenberger – este último com desfecho triste e trágico. Na pole position,
um Ayrton Senna consternado, sério e distante. Em nada se parecia com o piloto
sempre frio antes de uma largada. Senna havia sido um dos que mais ficou
impressionado com os acontecimentos do dia anterior. Mas mesmo assim decidiu ir
para a pista.
Quando a luz verde se acendeu, o Benetton de JJ Letho ficou estancado no
grid. Pedro Lamy, que já pegava grande velocidade, vindo de trás do grid,
não teve tempo de desviar, atingindo
o carro do finlandês em cheio. O violento acidente ratificou o medo de
todos, e uma das rodas voou para a arquibancada, matando um espectador.
Seguindo uma nova norma, a corrida não teria uma nova largada, os carros
seguiriam atrás do Safety Car até que a pista fosse limpa e considerada
segura.
A medida do Safety Car desagradara alguns pilotos. Os carros
andando em velocidade reduzida sofreriam mudanças no comportamento dos pneus, o
que poderia ser muito perigoso. Mesmo assim, a FIA manteve a decisão mais por
motivos comerciais (anunciantes seriam exibidos normalmente mesmo com os carros
andando lentamente e fábricas pagariam fortunas para fornecerem o carro de
segurança). Foram cinco voltas sob bandeira amarela. Na abertura da sexta
volta, a bandeira verde foi agitada e a corrida tomaria seu rumo normal.
Ayrton Senna mantinha a ponta e tentava se distanciar de Michael
Schumacher, no momento em que seu carro escapou misteriosamente na curva
Tamburello na sétima volta. Após se despedaçar no muro, o carro quase voltou à
pista e acabou por parar na área de escape. Após uma cena desesperadora de
resgate, Ayrton Senna deixava o autódromo levado de helicóptero, deixando como
marca uma terrível poça de sangue na pista. Horas depois, era anunciado seu
falecimento.
Nos dias que seguiram após o acidente fatal, foram levantadas diversas
teorias sobre as causas do acidente e da morte. Foram procurados os culpados,
notícias divergiam e jamais se
encontrou a causa real do acidente, apenas foram levantadas inúmeras
suposições. Até hoje, acredita-se que a morte tenha sido causada pela quebra da
barra da direção como causa. A única certeza é de que seu capacete fora
perfurado pelo braço da suspensão causando sua morte, provavelmente
instantânea.
Duas semanas depois das mortes, Karl Wendliger sofreria um gravíssimo
acidente na saída do túnel de Mônaco, e permaneceria um mês em estado de coma. A Fórmula 1 precisava de
mudanças urgentes. Ao longo daquele ano, inúmeros acidentes aconteceriam,
alguns com certa gravidade. Tentativas de burlar as regras por parte das
equipes trouxeram mais falta de segurança ainda, como ficou comprovado após o
incêndio no carro de Jos Verstappen, na Alemanha. Mas a muito custo, mudanças positivas
aconteceram.
Nesses 20 anos que nos separam de 1994, regras foram aprimoradas,
regulamentos técnicos alterados e comportamentos revistos. A Fórmula 1 tornou-se um
dos esportes mais seguros do mundo, e desde então, não houve sequer uma morte
de piloto nas pistas da categoria, mesmo com acidentes fortes como o de Michael
Schumacher (Silverstone 1999), Luciano Burti (Spa 2001) e Felipe Massa
(Hungaroring 2009). Para nosso benefício, essas medidas foram trazidas para os
carros de passeio, e devemos muito a esse desenvolvimento aplicado após as
mortes de Ayrton e Roland.
O fim de semana de Ímola permanece
com diversas perguntas sem respostas. Diversos “se’s” permeiam discussões nas
rodas jornalísticas e automobilísticas, “se’s” que teriam sido determinantes
para a sobrevivência de Ayrton e Roland. Vários julgamentos foram realizados,
provas apagadas (como a câmera On Board de Ayrton, misteriosamente
“desligada” 2 segundos antes da batida) e relatos divergentes dos médicos que
atenderam Senna a respeito de seu estado. O GP de Ímola, embora triste, trouxe
um legado imprescindível na questão de segurança nas pistas. Mas até hoje, 20
anos depois, permanecem mistérios que jamais serão revelados.