Professor Egidio Trambaiolli Neto e coleção.
Foto: Juliana Trambaiolli
Texto: Egidio Trambaiolli Neto
Desde
que assisti a minha primeira corrida de Fórmula 1, quando o Emerson Fittipaldi
realmente abriu as portas para o Brasil na categoria, eu não parei, o esporte
me conquistou, quantas e quantas corridas eu ouvi no radinho de pilha porque a TV nem sempre cobria os eventos? Às vezes tínhamos
corridas aos sábados e eu ia até a loja da Eletroradiobrás assistir a corrida
nas TVs em cores que o pouco dinheiro que meu pai ganhava não dava para
comprar. Mesmo com a saída do Émerson eu não abandonei o esporte. Veio o Piquet
que fez um extraordinário trabalho e o insuperável Ayrton Senna da Silva.
Curiosamente éramos vizinhos aqui em São Paulo, não de portas, mas próximos,
numa época em que corridas para mim eram de carrinhos de rolimã. Como eu sempre
gostei de ler e meus pais não tinham condições de comprar livros, eles
compravam gibis usados que eram vendidos na feira livre da Av. Benjamin
Pereira, que poucas quadras depois passa a se chamar Manoel Gaya, que, era
justamente a avenida que se seguida poderia ir da casa de um para a do outro.
Nessa feira havia um homem que distribuía gibis usados na calçada e, todo
domingo após ajudar a minha mãe a fazer a feira, íamos até o local e eu
escolhia um gibi usado que ela me dava e eu devorava tão logo chegava à minha
casa, ali, no próximo quarteirão. Eu adorava os gibis do Tio Patinhas, primeiro
porque tinha mais páginas e a magia Disney, depois porque trazia as criações de
Carl Barks. E eu os colecionava, lia, relia e re-re-relia... E continuava relendo.
Como os gibis eram velhos e usados, muitos vinham danificados e até rabiscados.
Um deles, de 1967, veio com um nome escrito: Ayrton Senna da Silva. Letrinhas
garranchudas de quem na época, como eu, estava iniciando a arte da escrita
(tínhamos exatos nove meses de diferença na idade: eu de 21 de julho de 1959 e
ele de 21 de março de 1960). Assim, tenho o que deve ser um dos primeiros
autógrafos do Senna, meio apagado pelo tempo, mas que guardo carinhosamente
junto com os outros gibis da minha infância.
Depois do acidente fatal que vitimou o ídolo
esportivo de muitos, ainda sigo o automobilismo e estou sempre revolvendo as
memórias. Tanto que quando vejo algo que faz referência ao Ayrton Senna, sinto
que o mito ainda me domina e a memória resgata os bons tempos do ecoar do tema
da vitória nas manhãs de domingo.
Gibi do Professor Egidio Trambaiolli Neto que pertenceu ao corredor Ayrton Senna.
Foto: Egidio Trambaiolli Neto